Celso Unzelte é jornalista, escritor, pesquisador e professor da Faculdade Cásper Líbero de Jornalismo em São Paulo.
Trabalha como comentarista da ESPN Brasil, participa do programa “Loucos por Futebol” da ESPN Brasil, é colaborador de algumas edições especiais da Revista Placar, escreve para o Yahoo! Esportes semanalmente e é torcedor do Sport Club Corinthians Paulista desde sempre.
1 - Você escalou uma Seleção do mundo de todos os tempos, certa vez, e nela havia dois jogadores do Botafogo: Garrincha e Nilton Santos. Algum outro ou outros jogadores do Botafogo estariam na reserva desse time escolhido por você?
Celso - É até um pecado colocar gente como Didi ou o Gérson, por exemplo, na reserva. Mas acho que como se trata de uma seleção do mundo de todos os tempos, esses dois são outros que mereceriam um lugar, principalmente se for uma seleção das COPAS do mundo de todos os tempos.
2 - Parece que depois de um tempo sem grandes ídolos, Messi vem resgatando um pouco da essência do futebol arte mundial... você citaria outro jogador que esteja no mesmo nível dele no mundo hoje?
Celso - Hoje, no mundo, no mesmo nível dele não tem. Até porque Romário e Ronaldo já encerraram a carreira. Há gente competente nas suas especialidades, como Cristiano Ronaldo ou Rooney, por exemplo, mas nenhum deles é tão competente quanto o Messi.
3 – Agora um assunto polêmico... Fala-se muito da FlaPress... Dizem que os jornalistas atuais travam notícias ou escondem coisas erradas para não perder a sua fonte.
Ser condescendente com a sua fonte e só mostrar o lado bom de uma parte e da outra contrária mostrar e incentivar o que há de ruim para agradar a sua fonte principal é ato falho dos profissionais de jornalismo?
Celso - Infelizmente, isso não acontece somente no esporte ou em relação ao Flamengo, Corinthians ou qualquer outro clube. É um mal do jornalismo em geral, que tenho tentado combater como professor de jornalismo que sou.
4 - Por que a imprensa dá mais espaço a times como o Flamengo e para o próprio Corinthians e deixa as outras equipes como um assunto secundário invariavelmente? É justo isso?
Celso - Porque esses clubes chamam mais atenção, inclusive a atenção dos adversários. Tanto que estamos aqui falando deles. Justo não é, mas isso acontece porque o jornalismo em alguns momentos, infelizmente, também é um negócio, principalmente para quem é dono dos meios de divulgação. Nessa história quem tem menos culpa é o jornalista, que apenas trabalha para esses meios. A orientação vem de cima, da linha editorial desses veículos, e o jornalista, por mais bem intencionado que seja, pouco tem a fazer nesse sentido.
5 - O futebol Brasileiro exporta os melhores jogadores que temos para a Europa e ficamos aqui com um nível técnico baixíssimo.
Hoje alguns começam a voltar, depois de anos de carreira por lá, para jogarem em times brasileiros novamente e encerrar suas carreiras... vemos exemplos como Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho, Gilberto Silva, Juninho Pernambucano, etc...
Você acha que isso pode fazer bem para os times em termos futebolísticos ou é só uma jogada de marketing para agitar os campeonatos que têm andado de lado no Brasil?
Celso - O melhor marketing no futebol é o chamado marketing de resultados, ou seja, não adianta o cara voltar só pra vender camisa e não jogar nada, vai viver de sua imagem do passado, e uma hora isso acaba. Há casos e casos, e naqueles em que o jogador volta para contirbuir ainda que um pouquinho com resultados em campo eu acho que essa jogada é válida.
6 - Agora eu quero que você fale um pouco sobre os livros que você escreveu sobre futebol...
Celso - Minha área é a pesquisa histórica do futebol, algo que percebi como uma possibilidade de se diferenciar. É difícil, na medida em que dá trabalho, mas como sou antes de tudo um consumidor desse tipo de livro acho que tenho sido feliz em publicar coisas que as pessoas querem saber, que elas sentiam falta por não terem à disposição antes.
7 - Qual o melhor time do mundo na atualidade?
Celso - Essa é fácil: o Barcelona de Messi & Cia., capaz de superar até as diabólicas estratégias do Mourinho.
8 - Você é um estudioso e conhece futebol como poucos...
O que representa para você o Botafogo como parte da história do futebol brasileiro?
Celso - É simplesmente o clube que conseguiu reunir o maior número dos maiores craques brasileiros ao longo dos tempos, de Heleno de Freitas a Garrincha, passando por Nilton Santos, Didi, Zagallo, Gérson, Jairzinho... Só por isso já mereceria todo o respeito, não?
9 - Vamos tocar em outro assunto polêmico e perigoso... a arbitragem anda estragando o “espetáculo futebol” nos últimos tempos? Só se escutam reclamações no mundo todo!
Celso - Acho que há erros e erros. O uso da tecnologia transformou a análise da arbitragem em covardia, é querer demais que o árbitro tenha, na hora, os mesmos olhos de uma câmera e a mesma condição que nós, espectadores, temos depois de assistir a um mesmo lance várias vezes. Outra coisa são os esquemas de arbitragem, arbitragens mal intencionadas, que também existem por aí. Acho que a Fifa deveria atacar o problema nessa segunda frente, mas não sei se tem muito interesse nisso...
10 – É fato que os jornalistas trabalham com informação, principalmente. Alguns jornalistas esportivos costumam trabalhar com “opinião”... muitos dão receitas táticas e arriscam escalações como se fossem técnicos de futebol e criticam o trabalho de profissionais da área, demonstrando o seu amor pelo time que torcem.
Agora, existem uns que trabalham com o sentido inverso da sua paixão... criticam demasiadamente o seu próprio time para não parecerem parciais. Parece um teatro isso tudo... concorda?
Celso - Acho que muitas dessas críticas estão na cabeça do torcedor, que é passional demais, porque o assunto futebol é subjetivo e parcial demais. Eu, particularmente, acho que o time para o qual torço não tem nada a ver com o fato de achar que houve pênalti ou não, que foi impedimento ou não. Mas vai saber o que se passa na cabeça de quem está me ouvindo? Ele tem todo o direito de mudar de canal e procurar o comentarista de sua preferência.
11 - A internet fornece uma avalanche de informações a cada segundo e proporciona canais múltiplos onde a informações pode se distorcer... isso é perigoso e pode destruir a credibilidade de quem faz um trabalho jornalístico sério e profissional?
Celso - O problema não está na internet, está no jeito como se faz jornalismo. Se você faz um trabalho sério e profissional, não vai ser o veículo que vai deturpar a sua informação.
12 - Não existe mais, pelos jogadores, amor à camisa como antigamente... aquela coisa de coração, como a torcida gosta. E também não existe, parece-me, muita ética em qualquer setor que analisamos e estudamos. O mundo mudou muito, infelizmente.
Tem lógica ainda existir torcedor apaixonado já que há mais mistério entre o céu e os gramados do que podemos acreditar?
Celso - Amor à camisa é utopia, ele não existe mais em ramo de atividade nenhum, não poderia sobreviver só no futebol. Tem lógica, sim, exitir o torcedor apaixonado, mas ele tem que ser consciente de que essa sua paixão será correspondida com limitações pelos profissionais em campo.
13 – Agora para descontrair... Sei que você é um apaixonado por hinos de clubes... você sabe de cor o hino do Botafogo?
Celso - Ao contrário de muita gente que se diz botafoguense por aí e não sabe, como o Agnaldo Timóteo, eu sei, sim. E também sei a letra do hino antigo do Botafogo, aquele de Octacílio Gomes, que diz: “Botafogo gentil, pura glória do esporte brasileiro, a expressão mais viril da energia e do brio verdadeiro”.
14 - O que vemos desde sempre são os campeonatos regionais serem definidos entre os times grandes de cada estado, com algumas exceções. Isso é uma constante chata e repetitiva que proporciona estádios cada vez mais vazios.
Campeonatos Regionais são uma fórmula falida ao seu ver?
Celso - Acho que não, eu, particularmente, adoro os estaduais. São parte da minha vida, vejo campeonato estadual desde pequeno. Por que ninguém reclama da Champions League ficar sempre entre Barcelona, Mancehester United, Milan, Real Madrid? Os estaduais teriam que durar menos tempo e serem mais bem organizado, mas ainda acho que há espaço para eles.
E agora vamos ver como você responde ao teste de fogo... é um ou outro, ok?
1 – O futebol é melhor jogado hoje em São Paulo ou no Rio?
Celso - Como futebol, prefiro o que é jogado em São Paulo. Mas o campeonato do Rio é mais emocionante.
2 – Túlio ou Loco Abreu?
Celso - Túlio, pelo menos até o dia em que Loco Abreu fizer mais gols do que ele.
3 - Garrincha ou Pelé? Ou Pelé e Garrincha e não se fala mais do assunto?
Celso - Pelé, mais do que qualquer outro.
4 – Manga ou Jéfferson?
Celso - Você está brincando??? Manga é claro.
5 – Jornalismo ou Corinthians? O que está em primeiro lugar?
Celso - Quando estou trabalhando (e só quando estou trabalhando), o jornalismo. Em qualquer outro momento da minha vida “civil”, o Corinthians.
Agradeço em meu nome, Celso, e em nome da Rádio Botafogo a honra de podermos ter aqui expressas as opiniões de um expoente do jornalismo como você.
Agora resuma em 5000 palavras o “Botafogo de Futebol e Regatas”!... brincadeira, pode ser em quantas palavras você quiser.
Celso - Pode ser... “o nosso imenso prazer”?
Para finalizar, peço uma mensagem sua para a torcida Botafoguense em geral e da Rádio Botafogo...
Celso - A torcida do Botafogo, com sua paixão, é um símbolo de resistência nesses tempos em que só se fala de dinheiro, cotas de tevê, participação nos lucros... Continuem assim, teimosos, mostrando que paixões como essa ainda valem mais que qualquer dinheiro que o futebol possa movimentar.
Renato Baptista
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